terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Pulse

Kairo, 2001
Dirgido por Kyioshi Kurosawa, com Haruhiko Kato, Kurume Arisaka e Kumiko Aso

Palavras-chave: espírito, suicídio




Ainda que venha dizer que filmes de terror ultimamente são clichês e comerciais, sem originalidade e nada inteligentes, eu tenho orgulho de ter tido a oportunidade de ter visto “Kairo”. É compreensível esse julgamento, pois até o cinema japonês que costuma a lançar grandes filmes de suspense/terror tem, mesmo que não grande, uma queda nas produções revelando grandes porcarias comerciais e cheias de clichês. Estas que futuramente são refilmadas pelos nortes americanos que acabam por destruir o construído com um filme visivelmente inferior em tudo, desde o terror, à filmagem em si, a direção, etc. Mesmo com o conhecimento do remake dirigido por Wes Craven, me poupei, ainda bem, e preferi conferir o filme original antes de pegar a refilmagem (pegar uma refilmagem conhecendo a original é uma coisa que raramente faço). E só tenho uma coisa a dizer: nada de refilmagem, tenho extremo medo de a refilmagem estragar a minha experiência com “Kairo”.

Mas “Kairo” não é um caso isolado apesar de não ser tão recente, mas se levar em consideração toda a história dos filmes de terror japoneses pode-se dizer que é bem atual. Na mesma linha de raciocínio e de idéias, segue o excelente “The Eye”, feito um ano depois. Ambos tratam de filmes de espíritos, fantasmas ou assombrações, chame do que quiser, mas ambos têm uma visão diferente desses “seres” temidos por todos e esse cultivo do medo pelos espíritos e pela morte é tratado nesse filme magistralmente sem fugir da proposta. Podemos vez vários tópicos abertos no filme, desde a internet, a influência da mídia no julgamento das coisas e a manipulação do conhecimento universal também exercida pela mídia (no caso, aqui, os computadores, que são usados como catalisadores para que a trama se inicie), indo até temas profundos como o medo da morte, o medo dos mortos e o suicídio.

A história se passa no Japão atual (no caso, em 2001, quando a tecnologia avançava e a internet se popularizava e se expandia), onde suicídios misteriosos acontecem, provavelmente relacionados à uma página da internet onde é prometida o contato com os mortos. Adolescentes, ligados de certa forma com os casos, começam a notar a mudança nas atitudes de diversos amigos e conhecidos levando-os a investigar sobre os acontecimentos. Começando por um amigo responsável por um trabalho de escola em grupo que não atende ao telefone. Aos poucos somos levados a casa dele pelos amigos deste onde o mistério tem início e a tensão começa. Ele se suicidara enforcando-se em seu apartamento, sem motivo aparente, mas, em seu computador, um site misterioso parece filmar seu quarto e gravar o que acontecia nele. Cada cena, local onde fora cometido o suicídio é lacrada com uma fita vermelha. A fim de se aprofundarem mais no mistério que começa a envolver, não só as já vítimas, mas diversas outras pessoas inclusive os jovens protagonistas, eles descobrem que, dentro de cada local lacrado, o espírito do suicida ainda está perdido clamando por ajuda dos vivos. É esse o ponto em que os japoneses conseguem mudar o foco em relação aos espíritos. Não poderei revelar muito sobre a trama senão a experiência de assistir ao filme é desperdiçada, mas pode ter certeza que daí para frente, a trama se desenrola de forma complexa, assustadora e envolvente.

Típico de filmes japoneses, o trabalho de direção é excelente. Vemos a criação da tensão no filme, algo indispensável, por mais profundo e mais afastado do gênero terror possa ser. O trabalho de iluminação é perfeito, quartos, apartamentos escuros e precariamente iluminados, com diversos cantos mergulhados nas sombras, a câmera com amplo foco escondendo as coisas, nos fazendo caçar qualquer movimento pelo cenário antes que levemos um susto. O interessante é que, o filme consegue fluir e criar tensão perfeitamente sem o uso de sustos, gritos, notas agudas, entre outros elementos excessivamente usados nesses tipos de filmes. Não vemos sangue, a violência poucas vezes é explícita e não há um foco em chocar o espectador com feridas, cabelos caídos no rosto, olhos insanos, etc. É um filme sincero e com um objetivo diferente de assustar o espectador. Não só os cenários fechados são bem trabalhados, como os abertos também. É uma Tókio escura e assustadora, mesmo que o sol brilhe no céu. De repente há pessoas andando nas ruas e em outra parte vemos as ruas vazias, desertas, o céu escuro, com nuvens carregadas, outras vezes com nuvens alaranjadas, tudo estranha e perfeitamente coerente.

Por mais que possa soar chato, principalmente para aqueles fãs de filmes japoneses de terror, “Kairo” é um grandioso filme, feito para amantes dos filmes que não são de gênero e que esperam por algo inteligente, envolvente e complexo, diga-se de passagem, pois o filme, enquanto caminha para o final, consegue enrolar a mente nos fazendo pensar sobre o que aconteceram momentos antes.

Peço para que os fãs assistam ao filme original antes da refilmagem, tenho quase toda a certeza de que será uma experiência incrível para aqueles de mente aberta. Uma verdadeira obra-prima, mesmo que com efeitos visuais envelhecidos... mas do que isso importa, isso é o de menos!





Avaliação: 9/10

Por Pedro Ruback

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