segunda-feira, 25 de julho de 2011

A Serbian Film - Terror Sem Limites

Srpski film (2010)
Dirigido por Srđan Spasojević, com Srđan Spasojević, Sergej Trifunović, Jelena Gavrilović, Slobodan Beštić, Katarina Žutić, Ana Sakić, Lena Bogdanović, Luka Mijatović e Anđela Nenadović.


Palavras-chave: sadismo, pornografia, violência


As informações já foram previamente jogadas na mídia: “Srpski film é o filme mais chocante de todos os tempos”, “o filme mais pesado da década”, “não assistam”, etc, motivou sites e blogs a fazerem listas com os filmes mais fortes e que todos devem manter distância, sendo que Srpski film sempre está no topo da lista. Essa superprodução foi lançada em diversos festivais e a reação das pessoas foi simplesmente chocar-se pelas cenas de teor cruel extremo e, mesmo assim, roda pelo mundo em exibições em salas de cinema, a versão censurada, com dezenas de cortes (49 cenas, totalizando 4 minutos e onze segundos) para poder conseguir chegar a um nível onde possa ser exibido nas salas de cinema e ser comercializado em DVD.

A polêmica foi lançada, descrições das pessoas que viram este filme são demasiadamente encontradas, o número de pessoas revoltadas com a violência extrema apresentada no filme é grande. Mas e aí? O que se fazer perante a isso? Srpski film é surpreendente. Joga na cara do expectador o quão podem as pessoas serem hipócritas diante da violência gráfica do filme e, com certeza, por isso, o filme soe mal compreendido pela mídia.




Srpski film dá um tapa na cara do cinema comercial que explora, não só o sexo extremo, como a violência extrema em busca de público e dinheiro, um retorno mórbido que obviamente alimenta as indústrias que trabalham com o gênero. Não só o cinema de horror extremo é foco, como a própria indústria pornográfica que explora os limites de seus “atores” para criar situações cada vez mais escatológicas, absurdas e doentias a meio de estimular a mente dos expectadores de forma que fiquem no mínimo curiosos mediante aquilo que assistem. Mas Srpski film acerta também onde mais dói. As pessoas gostam, procuram, fazem filmes denominados “snuff”. Snuff é o tipo de filme onde, depois de torturas sexuais, há a execução de um dos indivíduos, a vítima, geralmente do sexo feminino. As pessoas querem ver isso, elas sonham com o submundo pornográfico e quem sabe os filmes snuffs realmente não existam? O sexo com amor já não sacia a sede de perversão, deve-se haver fetiches, ferramentas, violência, ousadia para que tudo saia do monótono, alimentando cada vez mais a intensa sede de prazer sem limites que muitos seres humanos sentem.

Spasojevic, o diretor, deixo claro numa entrevista sua real proposta, não de apenas criticar o cinema, mas de criticar o próprio país: "This is a diary of our own molestation by the Serbian government... It's about the monolithic power of leaders who hypnotize you to do things you don't want to do. You have to feel the violence to know what it's about." O foco interessante dele também pode ser aproveitado para expressar a revolta de muitas pessoas sobre seus países, a própria indústria cinematográfica, os limites e controles que a sociedade e a mídia impõem às pessoas.

Sprski Film conta a história de um ator decadente da indústria pornográfica, Milos, que constituiu família e passa por dificuldades. Ele tem um filho, uma bela esposa e uma boa casa, mas é incapaz de conseguir outro emprego até que uma amiga conta-lhe sobre um cineasta que quer contratá-lo para um projeto milionário e que pode lhe tirar do sufoco em que vive. Pode ser clichê e soar completamente fraco, mas desde o início do filme vemos o potencial que ele tem. O filho de Milos é apresentado vendo um filme pornô de seu pai que ele pegou na estante de casa e, sem entender o que está acontecendo. Seus pais retiram o filme logo que o vêem tentando convencer o filho de que tudo ali é uma brincadeira “do papai com uma amiga”.

Não, Sprski Film não é um filme fácil. A grosseira violência gráfica do filme pode facilmente encobrir a proposta que passa, forte e densa. Srdjan Spasojevic, diretor e protagonista do filme, parece chamar todo mundo envolvido no ramo pornô/terror/extremo de idiota e apresenta tudo aquilo que todos querem ver da forma mais doentia possível, sem exagerar em certos aspectos, se não soaria gratuito. Sprski Film não é um filme gratuito, tudo está lá porque tem que estar, a crítica está clara, é como se intencionalmente Srdjan se rebaixasse ao nível dos filmes que ele critica para poder em fim atingir o órgão vital.


Mesmo assim, o filme consegue deixar o espectador mal. As cenas variam entre o sexo atenuado apresentado de cinco em cinco minutos, sendo este vulgar somente quando se propõe e deve ser vulgar, e a violência. O sexo entre Milos e sua esposa não passa de sexo puro com amor, mesmo quando ela pergunta a ele “você nunca pensou apenas em me foder?” enquanto assistiam a um filme pornô que ele fez há muito tempo e ele dizia “com você eu faço amor e com elas eu apenas fodo”. E então ele deixa claro para ela, fisicamente, que a sensação do filme pornô não é uma sensação agradável.

A violência no filme é feita para revoltar, chocar, essa é a intenção. Um homem mascarado amarra uma mulher grávida, retira seu bebê e faz sexo com ele. Outro homem mascarado é apresentado, depois de arrancar todos os dentes de uma mulher, forçando ela a fazer sexo oral nele e tampando o nariz dela sufocando-a e a matando. A forma como tudo aquilo é conduzido faz mais com que sintamos revolta à simplesmente nojo ou vontade de sair da sala (ou desligar o filme), uma atitude extremamente hipócrita da parte do expectador que se dispõe a assistir um filme desses.

Até a metade do filme, tudo soa linear e padrão, mas é depois que ele acorda em sua casa, cheio de ferimentos e sem entender muito que vemos a narrativa do filme começar a ficar mais interessante. Frenético, o filme alterna em momentos em que ele se lembra de flashs do que acontecera e quando ele pega uma câmera com vários tapes e começa a vê-los. O filme vai, daí para frente, apresentando os limites da mente humana, não poupando o expectador de detalhes. Há apenas um momento claro do filme que deixa visível sua proposta crítica, e ele se encontra nos ápices. O melhor de tudo é que nada é jogado na nossa cara esclarecendo tudo o que devemos entender, apenas fica no ar a compreensão pessoal do filme.

Sprski Film tem qualidades de filmes com grandes orçamentos, tudo é muito bem feito, filmado e o diretor não se limita a cenários mal feitos, é uma espécie de gore anti-trash que convence muito. Não digo que é um filme que deva ser visto por todos, mas por aqueles que se disponham a assistir sabendo o que vão ver para não mancharem a imagem do filme como fazem aos montes pela internet. Pode sim, ser considerado um dos filmes mais pesados da história, ao lado de Subconscious Cruelty, mas seria melhor se o figurassem no hall dos importantes, como Salò o le 120 giornate di Sodoma, Irréversible, Ex Drummer e Antichrist.


O filme consegue, mesmo com todos os seus recursos e boa narrativa, não trazer nada de realmente novo para o cinema, fora sua já clara ousadia. Ver um filme desse só se for pelo que eu já disse, sua profundesa crítica e, de outra forma qualquer é inútil ainda mais quando o expectador é fundamentado pelas opiniões alheias que destroem o filme como Magno Malta falou mesmo sem ter visto o filme (ridículo). O filme também consegue se propor nulo em qualquer tipo de apologia. Os estupros estão lá, a violência, o prazer insano dos atores, mas nunca julga e muito menos faz diretamente com que o expectador sinta prazer no que está vendo, já que o filme é narrado do ponto de vista de Milos, o ator pronô que se volta contra tudo aquilo. Os moralismos estão camufladamente presentes e não comprometem a história, fazendo-a fluir livremente.

A recomendação segue alertando o nível do filme e, fica a julgamento de cada um assistir ou não. Está rolando a polêmica de que o Brasil seria o primeiro país a exibir o filme sem cortes (com 104 minutos) nos cinemas, mas foi proibido há pouco tempo. Agora é torcer para que algo seja feito já que a censura é o pior mal da raça humana, algo hipócrita e que visa o controle do que as pessoas vêem sem nem mesmo raciocinarem sobre o quão inútil e ruim é a censura vendo que ela só colabora para o interesse do público que, de acordo com eles, deveriam se manter distante do filme (menores de 18 anos). Uma pessoa verá de acordo com o grau de maturidade, não há cabimento proibir alguém de ver um filme, se quiserem simplesmente fazem o download da versão completa pela internet, que é a coisa mais fácil do mundo. E que falso moralismo é esse que proíbe um FILME ser exibido enquanto, na tv aberta, vemos banhos de sangue, espancamentos, pessoas reais vivendo horrores no mundo e, além do mais, sobre o sensacionalismo das emissoras. Pensemos.




Avaliação: 8/10

Por Pedro Ruback

sábado, 9 de julho de 2011

Aguardem

ESPECIAL DE HALLOWEEN


MINHA AUSÊNCIA DO BLOG NÃO FOI ESQUECIMENTO. NO MÊS DE AGOSTO HAVERÁ UM ESPECIAL DE HALLOWEEN COM MATÉRIAS, CRÍTICAS DE FILMES, CONTOS E OUTROS COMO GALERIAS DE IMAGENS.




ENQUANTO ISSO, APRECIAM ESSAS MÚSICAS