Dirigido por Abel Ferrara, com Harvey Keitel, Victor Argo, Frankie Thorn.
Palavras chave: drogas, violência
Ao som de “Pledging My Love”, duas mulheres se insinuam sexualmente como homem e mulher. Enquanto isso o tenente, já bêbado e drogado, continua a se embebedar. Dança com uma das mulheres e logo outra se aproxima. Nu, ele cambaleia e chora como uma criança, brinca consigo mesmo como uma criança dançando, chora. Talvez uma ou a melhor seqüência da década, explica, sem palavras e expressivamente, tudo o que o personagem interpretado magnificamente por Harvey Keitel é no filme. O homem durão, imponente, mas sofrido e extremamente sentimental, um homem reprimido por si mesmo e moldado pelo mundo, depressivo e autodestrutivo. A arma do mundo, o sentimento do mundo repressor, a conseqüência da sociedade, da violência e do sofrimento imposto pelos dias que se passam. O ser transformado e completamente transtornado. Um homem morto, mas vivo. Que usa drogas das mais variadas, inclusive o crack, que explora mulheres, paga para o sexo, abusa e impõe-se violentamente sobre todos. O filme “Bad Lieutenant” é um precioso e cuidadoso estudo psicológico sobre o ser humano vivendo na situação extrema da sociedade, convivendo com a mais pura violência e repreensão, jogado e formado pela independência, preso à carne e moralmente destruído, não pelos outros, mas por si mesmo, pelo seu próprio interior ferido e magoado, deprimido, sofrendo e agüentando cada momento da vida, encontrando escapatórias violentas.
É um filme complexo emocionalmente, mas com uma trama bem simples. Harvey Keitel incorpora “O tenente” (o seu personagem não tem nome e é conhecido somente por isso), um homem, policial corrupto que ronda as ruas em busca do que corromper, em busca de drogas e tirar proveito das outras pessoas, ao mesmo tempo em que é atolado de dívidas. O filme já começa com um personagem no meio de sua autocatástrofe psicológica. Viciado em todos os tipos de drogas, em jogos, violento com a família e com todos próximo de si, as prostitutas já o conhecem de tempos e já sabem lidar com ele “amigavelmente”. A trama começa a se desenvolver com base nos jogos de aposta, nesse caso, partidas de beisebol. O que começou com alguns milhares foi se acumulando com a esperança mortal de que irá ganhar em algum momento.
Somos então obrigados a presenciar a sua destruição quase completa, a quase morte do personagem e obrigados a vê-lo aliviar seu corpo numa cena chocante numa igreja, que soa surreal, mas é tamanha assustadora que nos chocamos ao notar o que acontece. São duas as cenas que fazem desse filme uma obra-prima do cinema: a já contada no início e a perto do final, onde o desabafo acontece. Ambas com cargas emotivas pesadas e tensas em todo o momento, não há alívio para nós espectadores, somente angústia e ainda sim sentimos que dentro daquele ser ainda há muita angústia que precisa ser aliviada. Talvez essa seqüência de “redenção” seja uma das mais puras filmadas e a mais forte de todo filme.
Em 2009 foi lançada uma espécie de refilmagem deste filme com Nicolas Cage no papel principal que, de tão diferente, não se pode ser comparado e talvez nem classificado como refilmagem.
Avaliação: 10/10
Por Pedro Ruback
Como consigo assistir o filme
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