domingo, 6 de março de 2011

Chelsea Girls

Chelsea Girls, 1966.
Dirigido por Andy Warhol e Paul Morrissey, com Brigid Berlin, Randy Borscheidt, Christian Aaron Boulogne, Ondine, Nico, Mario Montez, Dorothy Dean e Marie Menken.

Palavras-chave: filme experimental, juventude



"Chelsea Girls" é um reflexo de uma juventude em formação, a rebeldia e a forma de expressão. Andy Warhol e Paul Morrissey exploram de forma única e completamente fora dos padrões o cinema como forma de comunicação mais do que representativa. O jovem dos anos 60/70 e sua explosão de liberdade de expressão, sexual, opiniões religiosas revoltadas contra a repressão e a idealização demente manipuladora da época. Ao mesmo tempo em que procura retratar o jovem na mais completa liberdade de expressão, propõe uma crítica contra o controle do mundo padrão, desde o jovem afetado até o jovem tentando se estabelecer na nova forma de expressividade dos outros jovens. Não procura de forma alguma retratar as dificuldades dos pais, muito menos mostrar um contexto detalhado da época, apenas lança trechos de cerca de meia hora da vida de pessoas em situações cotidianas e libertinas, sem função moral.

A homossexualidade surgindo como forma de expressão, como quando o personagem de Ondine, ou ele mesmo, pois todos fazem papéis com os próprios nomes e de formas tão naturais soando como uma entrevista (mesmo não sendo), diz “sou homossexual por opção”. Algumas das principais situações do filme envolve esse tema como quase que base de todo o filme. Em certa parte, duas mulheres se tratam por nomes e artigos masculinos enquanto uma é extremamente controladora e repressora e a outra extremamente frágil. Ambas parecem, em tons sádicos, “aprisionar” uma outra mulher que está no chão do quarto.

“Chelsea Girls” possui um estilo de cinema único. Há duas telas, as duas passam situações diferentes ao mesmo tempo, sendo que uma das cenas há som e a outra nenhum, só imagens. Há momentos em que o filme parece defeituoso, como quando o som fica muito baixo e quando não existe som e as duas telas ficam em completo silêncio. Em alguns momentos a tela também some, ou sobe, ou então tem cortes centrais como se o filme estivesse danificado. O filme é preto e branco e colorido, às vezes divide a tela com um de cada forma e outras vezes são da mesma forma, tudo num jogo de tomadas contínuas, o que é interessante, pois não há cortes, são cerca de meia hora cada situação sem nenhum tipo de corte ou mudança de ângulo. A câmera parece manipulada por alguém inexperiente que usa e abusa do zoom exageradamente, às vezes tentando acompanhar o movimento dos atores, outras vezes perdendo completamente o foco e se perdendo, literalmente. Tudo muito aparentemente amador, sem nenhum compromisso com o padrão do cinema. É considerado um dos materiais mais completos do cinema underground.

O filme é dividido em espécies de capítulos apresentando situações diversas, como uma mulher gorda conversando com outra mulher sobre nada e depois atendendo um telefone. Um homem que se diz padre e atende uma jovem que quer se confessar, mas que logo desconfia de sua personalidade. Um homem que não sabe sobre o que falar e fala sobre coisas desconexas que levam a outros assuntos aparentemente sem fundamento, como o suor ter o mesmo gosto de uma maçã com sal e o sentimento de liberdade ao ficar nu. Há também uma espécie de orgia sem sexo onde um jovem parece forçado a se despir numa cama com outros dois homens e duas mulheres. Uma mulher que está sentada numa cama enquanto numa outra cama uma mulher gorda conversa e parece zangar com um outro jovem.
Ao mesmo tempo em que revolucionário, o filme pode desagradar por não ter o ar de filme. Há momentos em que o ator conversa com o diretor do filme e há momentos em que o ator não quer mais estar lá, dizem algo como “eu não agüento mais, quero ir para casa me masturbar, sei lá, fazer algo legal”, como se não estivesse satisfeito com o que está fazendo. Não há conectividade aparente entre as situações. Em algumas delas, os atores se repetem, mas parecem ter outro contexto. As únicas situações que parecem continuar é a de Odine, o papa falso, que fecha o filme talvez com a parte mais forte e interessante, ao lado da imagem de uma das atrizes chorando.

Com a idéia e o contexto histórico do filme, o filme conseguiu um status de cult underground e costuma a ser exibido em festivais e, curiosamente, em amostras de museus, muitas vezes em exposições de Andy Warhol, que também é um artista plástico que fez o clássico rosto de Marilyn Monroe em cores vibrantes.

Originalmente o filme teria cerca de seis horas, mas os diretores resolveram exibir o filme em duas partes dividindo a tela, idéia que foi genial e talvez o filme fosse, hoje, menos reconhecido. De qualquer forma, “Chelsea Girls” foi, de certo modo, revolucionário para o cinema, como todos os filmes originais e ousados dessa época, mesmo fugindo dos padrões e não tendo o devido reconhecimento da mídia. Realmente, é um filme quase anti-comercial, é uma espécie de filme experimental muito bem executado e de forma única.

O que pode e gera desaprovação no meio do cinema são suas longas e despreocupadas tomadas, muitas vezes carregadas de certo vazio e assuntos mal compreendidos ou realmente desnecessários, tomando muito tempo apenas mostrando imagens e situações aparentemente sem propósito. (pessoalmente, o filme funcionou perfeitamente comigo, apesar de, na primeira hora de filme eu não ter entrado na proposta, mas basta apenas expandir os horizontes). Um filme obrigatório para os fãs da cultura Underground.





Avaliação: 9/10
Por Pedro Ruback

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