Dirigido por Gaspar Noé, com Nathaniel Brown, Paz de la Huerta, Cyril Roy, Olly Alexander, Masato Tanno e Ed Spear.
Palavras-chave: drogas, morte, prostituição
Noé despirocou de vez. “Enter the Void” soa como um filme feito para o próprio diretor, cultuando e reutilizando as técnicas já usadas em “Irréversible”. Pelo visto diretor adorou seu estilo único e aqui fez um filme somente com este estilo. Para quem não conhece, em “Irréversible” (filme obrigatório), Noé trabalha com a câmera de forma única e original. É puramente nauseante, os momentos iniciais são de fazer passar mal e é aí que se encontra o atrativo do filme, mistura orgias homossexuais, um clima psicodélico e uma atmosfera pesadíssima com a câmera louca e cria-se um filme sensitivamente perturbador. A câmera gira, baila e dá cambalhotas, não foca em nada e, misturado com uma iluminação precária de boates, colorido e escuro, torna tudo estranho e realista, como quando sonhamos querer estar acordados, mas estamos com sono, então fechamos e abrimos os olhos com dificuldades, ou então a câmera está sob efeito de drogas pesadas e delirantes que lhe tira da realidade e lhe domina por completo tirando o controle de sua mente sobre seu corpo.
Oscar (Nathaniel Brown) mora com sua irmã, Linda (Paz de la Huerta) em Tóquio. Oscar é traficante e usuário de drogas (apesar de não aceitar os fatos) e Linda é uma prostituta e striper em uma casa noturna. No início vemos os dois conversando e em seguida ela indo para o trabalho. Ele usa drogas e recebe o telefonema de um amigo para que leve para ele droga. Tentando se controlar pelo efeito alucinógeno, começa a se aprontar e, quando sai do apartamento encontra seu amigo, Alex (Cyril Roy), que queria ver sua irmã e aceita o convite de Oscar para irem até o encontro do cliente e em seguida seguirem para a boate. Os dois, durante o caminho, conversam sobre um livro que Alex emprestara sobre a morte e a vida após a morte. Nele, a pessoa morre e seu espírito se separa do corpo. O indivíduo vê sua vida passar pelos seus olhos e em fim morre. O espírito flutua e vaga pela cidade podendo ver tudo, porém, incapaz de interagir com os vivos. Por fim ele encontraria onde gostaria de reencarnar e reencarnaria num corpo novo. E é nisso que se baseia cerca de duas horas de filme.
Noé não poupa um segundo. Todo o filme, completamente é passado aos olhos de Oscar, em primeira pessoa. Depois de seu espírito solto do corpo, ele flutua pela Tóquio em longas tomadas, algumas rápidas, passando por diversos apartamentos, e presenciando o desenrolar e as conseqüências com cada um. Mas é impressionante como Noé consegue repetir a fórmula de “Irréversible”. O filme começa extremamente movimentado, de forma genial e envolvente, depois cai numa monotonia incrível, ainda que novo para o cinema, mas demasiadamente explorado. Só que, o que torna “Irréversible” um filme mais ágil é tudo ser otimamente explorado cerca de noventa minutos, ou seja, uma hora e meia, enquanto “Enter the Void” são grandes cento e sessenta minutos, ou seja, duas horas e quarenta.
De qualquer forma, a duração não estraga o que Noé propõe, talvez torne mais cansativo, mas é necessário. Como tudo é em tempo real e há a necessidade de um aprofundamento em relação ao desenvolvimento dos personagens e do protagonista, Noé não se preocupa com a duração extensa do filme, apenas mostra o que quer e o que deve ser mostrado. Descobrimos todos os detalhes da vida de Oscar e de Linda, desde o acidente que levou à morte violenta de seus pais presenciados por eles enquanto crianças, ao o que trouxe Linda, que estava separada de Oscar durante muito tempo, para Tóquio.
Vale ressaltar o que já é ressaltado por qualquer um que viu o filme: é muito colorido e vibrante. Tudo é colorido, tudo é vivo e estranhamente solitário. Desde os créditos iniciais (costumeiramente diferente nos filmes de Noé), onde não conseguimos ler quase nada, não sabemos quem são os atores, os patrocinadores, produtores e se bobeasse, nem o diretor. É uma explosão eletrônica e de cores, já dava para ter uma idéia, logo de início de como seria o filme em seu desenrolar. As cores piscam como uma caixa de som vibra, é como estar num show eletrônico.
Noé passou que fez o filme que queria fazer, misturando os temas que mais mostrou gostar em sua carreira com as técnicas próprias, o estilo próprio, o visual “alterado” (uma Tóquio sob efeito de drogas, com certeza). É um filme de Noé para Noé, e de Noé para seus fãs. Com certeza não é um filme para todos. É nauseante, porém, é algo digerível.
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