quinta-feira, 3 de março de 2011

Aftermath

Aftermath, 1994.
Dirigido por Nacho Cerdà, com Xevi Collellmir, Jordi Tarrida e Ángel Tarris.

Palavras-chave: necrofilia, morte


Cerdà apresentou-se ao cinema como um cineasta polêmico. Mesmo tendo começado com seu curta “The Wakening”, ficou reconhecido por essa doentia e filosófica obra chamada “Aftermath”. O que podemos esperar de um média metragem de horror? Gratuidade? Bom, nesse caso não. Mesmo com sua curta duração de um pouco mais de meia hora, Cerdà consegue manipular a mente do espectador fazendo-o de cúmplice de uma simples reflexão sobre a vida e a morte. O filme é uma dança macabra onde o ser vivo não encontra barreiras na morte para seu prazer. Não se trata de um psicopata ou algo do tipo, mas do desejo sexual de um legista sobre corpos mortos e mutilados.


Dois legistas trabalham em um necrotério, eles retiram os órgãos das pessoas mortas, provavelmente para transplantes, pois não há um estudo ou uma perícia sobre o cadáver. Os cadáveres são visivelmente vítimas de acidentes ou assassinatos, um deles tem uma das pernas quase decepada, com um ponto na canela esmagado que sustenta o pé. Um desses legistas trabalha como se fosse apenas mais um dia enquanto o outro parece não levar aquele dia como um "simples" dia. Seu olhar alerta algo de errado e pode significar coisas monstruosas. O outro legista termina seu trabalho e vai embora enquanto o outro permanece com o corpo. A partir daqui, começamos nosso espetáculo repulsivo e mórbido. O homem se masturba para o corpo aberto sobre a mesa e, em seguida, traz um corpo de uma mulher. Inchado e naturalmente feio, ele abre seu dorso e, como se não fosse o bastante para satisfazer seu psicológico doente, ele tem relações sexuais com o cadáver.

Ainda que assustador contado apenas desta forma, temos uma contemplação de todas as cenas, closes em momentos viscerais e longas tomadas detalhadas. Não há censura – por mais que a masturbação não tenha sido explícita – nem mesmo uma preocupação com isso. É literalmente uma dança entre a morte e a vida, uma perfeita e indiscriminada fusão entre os dois, um equilíbrio. As tomadas contemplativas funcionam para dar beleza à morte, dar um sentido que não só a brutalidade que levou aquelas pessoas à morte. (antes que as pessoas critiquem o realismo do filme sobre os corpos, quando uma pessoa morre ela endurece e parece realmente um boneco). Junte a isso Mozart como trilha sonora.

Não há sequer um diálogo no filme, reforçando a idéia de reflexão. “Aftermath” faz parte de uma trilogia: o nascimento, representado por “The Wakening” (1990), a morte, representada por “Aftermath” e o renascimento, representado por “Genesis” (1998). O filme também foi o grande vencedor do prêmio de Melhor Curta Metragem no Fant-Asia Film Festival, se tornou instantaneamente um clássico cult do gore, sendo lembrado pelos mais diversos festivais relacionados ao tema e se destacando por não ser apenas um filme sobre necrofilia gratuita para se ver corpos sendo abertos e muito sangue, mas por ser um dos raros momentos reflexivos que mistura o gore e o fantástico.
Aftermath é um filme que consegue te deixar incomodado quando termina, fica-se no ar uma dúvida se "gostei ou não gostei" estranha. Mas, basta digerí-lo para saber qual dos dois lados você vai ficar.





Avaliação: 8/10

Por Pedro Ruback

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