sábado, 14 de maio de 2011

Exit Though the Gift Shop

Exit Though The Gift Shop (2010)
Dirigido por Banksy, com Thierry Guetta, Banksy, Shepard Fairey, Wendy Asher, Jay Leno, Space Invader e Deborah Guetta.

Palavras-chave: arte

Esse comentário contém SPOILERS, revelações sobre o filme. De qualquer forma, não comprometerá a diversão de vê lo.


Antes de tudo, o documentário foi dirigido por Banksy e o foco do filme não é Banksy, mas uma figurinha chamada Thierry Guetta, a forma como ele entrou na vida de Banksy e da própria arte de rua e como conseguiu a fama que tem hoje como um artista. Menos focado nas críticas sociais das obras de Banksy ou em qualquer outra crítica social de qualquer outro artista que aparece no filme, Banksy faz seu documentário como forma de expressar sua... ira? Raiva? Não sei se um termo negativo seja apropriado. Mas foi um manifesto contra o Guetta, personagem marcante na vida de Banksy.

Quem é Thierry Guetta? Nem eu o conhecia até assistir a esse documentário. Guetta é um artista de rua francês que começou como cinegrafista. Não bem um cinegrafista, ele tinha obsessão em filmar tudo o que via de forma compulsiva. Desde pequeno, até a então idade adulta, documentando e guardando tudo o que podia, mas sem dar valor algum ao que filmava. Quando terminava de gravar, guardava numa caixa e apenas isso. Às vezes as fitas com os filmes não tinham nome, número ou algo que possibilitasse uma referência. Começou a se envolver com a arte de rua quando resolveu filmar seu primo, o Space Invader, rapaz que fazia espécies de azulejos com o formato dos Space Invader, joguinhos eletrônicos antigos e espalhava essas coisas pela cidade. Nisso, ele começou a se interessar cada vez mais por essa arte que misturava ousadia – pois era proibido espalhar essas coisas em propriedades sem motivo, apenas por espalhar – e talento. Aos poucos foi conhecendo outros artistas à medida que ia viajando com seu primo. Um deles foi Shepard Fairey. Fairey ficou conhecido por um desenho típico, o “André, O Grande”, da tal palavra “Obey” escrita sobre um fundo vermelho abaixo da imagem estilizada do boxeador. Não só essa imagem o deixou famoso, como diversas outras, como a foto de Barack Obama com a palavra “Hope”, com cores distorcidas e vibrantes, como Andy Warhol fez.


Com esse costume de ir a tudo quanto é lugar com os artistas de rua, conhecendo diversos outros artistas e documentando tudo o que via, ia a todos os lugares de diversos paises e conhecia tudo o que se podia conhecer sobre prédios. Guetta não era apenas um cinegrafista que ficava embaixo enquanto os artistas estavam no alto das propriedades, prédios, ele ia até lá e ajudava-os em tudo o que fosse necessário extraindo o máximo de experiência. E foi num dia, em meio à explosão da fama de Banksy, que Guetta foi chamado pelo próprio cara para ajudá-lo em algumas coisas, entre elas, encontrar localizações boas para sua arte, além de documentar tudo.

Banksy ficou reconhecido por colocar sua arte no Muro da Cisjordânia, uma barreira que separa o Estado de Israel dos territórios da Cisjordânia. Polêmico, o muro é um verdadeiro campo de guerra, tanto político quanto físico. Banksy ousou e colocou lá obras de grande valor crítico que mostram crianças pintando um buraco no muro e, do outro lado, uma paisagem paradisíaca. Banksy também ficou mais reconhecido ainda por conseguir colocar, escondido, seus trabalhos de arte em diversos museus, como o Museu de História Natural em Nova York. Um grande sucesso no mundo todo, Banksy passou a ter suas obras de arte leiloadas por pessoas que simplesmente pegavam as obras que estavam expostas e vendiam por preços exorbitantes.

Voltando, Guetta conseguiu uma aproximação tão grande de Banksy que se tornou um amigo fundamental do artista. Porém, Banksy, vendo que Guetta não tinha vocação para o cinema vide um filme que ele fez editando o material que fizera (essa parte no filme é hilária; o tal filme realmente existe), deu a sugestão para que ele tentasse a arte de rua. E foi o que Guetta fez. Mas Guetta não fez tão simplesmente como todos os grandes e reconhecidos artistas de rua fazem, começando pequeno, com protestos e talento, mas ele abriu quase que uma empresa gráfica para seus cartazes, hipotecou a casa e foi ao trabalho, colando seus cartazes e divulgando quase que infantilmente suas obras. E, do nada, resolve fazer sua exposição de arte. Mas havia um fator que não possibilitava tal coisa: Guetta não era reconhecido, pois estava há pouquíssimo tempo no ramo. Mas ele queria começar como os grandes lutaram para conquistar durante anos, Guetta era uma criança a fim de brincar com todo mundo e, infelizmente, insultar os grandes artistas de rua.

O resultado disso? Guetta não tinha estilo próprio, ele era uma mistura de tudo o que via, a maioria de suas obras não tinham significado além de ser pop demais e atrair a curiosidade do público e crítica. Não havia conteúdo crítico, muitas se assemelham às obras de Andy Warhol. Guetta virou um artista muito bem sucedido, porém sem identidade.


Banksy trabalhou 80% do documentário com imagens feitas pela câmera de Thierry Guetta. Desde arquivos pessoais a arquivos de sua experiência com ele. O resultado foi uma película divertida e irritante (o personagem principal é irritante). Além de um documentário bom sobre a vida dos artistas de rua que se espalham e se escondem pelas grandes cidades e, no caso do Banksy, pelo mundo. Banksy, para guardar sua identidade distorce sua voz sempre que fala. Em cenas em que ele aparece sem sua típica máscara de macaco, há um efeito de imagem para granular e, quando está dando entrevista, usa um capuz e também um efeito de sombra é lançado sobre seu rosto.

Eu fui uma vítima da mídia. “O filme do Banksy”, realmente, é um filme feito por ele, mas não é sobre ele, é sobre uma outra pessoa. Foi uma surpresa divertida, apesar da decepção. O foco poderia ter sido mais aprofundado nos temas sérios da arte de Banksy, mas tudo pareceu secundário. De qualquer forma, um grande e divertido filme com grandes momentos, envolve e entretém por toda sua hora e meia.




Avaliação: 8/10


Por Pedro Ruback

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