quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Holocausto Canibal

Cannibal Holocaust, 1980.
Dirigido por Ruggero Deodato, com Robert Kerman, Carl Gabriel Yorke, Francesca Ciardi, Perry Pirkanen e Luca Barbareschi.

Palavras-chave: violência




Já é de muito que o ser humano, o homem “desenvolvido” da sociedade tem o foco da atenção cinematográfica quanto a seus atos e sua natureza, geralmente tratando-o como uma pessoa violenta e sem escrúpulos, “desumano” (um adjetivo que deve ser esquecido), como dizem. Mas não há de todo errado nisso, pois alguns diretores conseguem tratar o homem atual como o homem atual. Vejamos, Lars von Trier estuda o ser humano e critica a sociedade de forma forte, critica o desenvolvimento dela e a ignorância. Haneke consegue pintar um quadro forte num cinema mais “aceitável” sobre o homem atual, a juventude e tudo o mais de forma consistente e direta. Ambos os diretores desenvolvem seus personagens e nos convencem de que nosso meio de vida é conturbado e ruim (o mundo não é um lugar bom, é um lugar em desenvolvimento, evolução e cabe ao homem abrir os olhos para isso), abalado e, muitas vezes, atrofiado.

As coisas citadas acima não são executadas, de nenhuma forma, no filme “Cannibal Holocaust”. O homem é retratado como a ameaça, os quadros se invertem e temos o “reflexivo” final onde somos interrogados de quem seriam os animais, os “canibais”, como dito realmente no filme. Deodato apenas pareceu desfigurar a imagem do ser humano e torná-lo ainda pior do que é para criar uma reflexão barata que poderia ser mais bem aproveitada, mas que resultou apenas em um filme ridículo e sem profundidade, mais “snuff” do que chocante em si. É como se o diretor quisesse jogar na nossa cara que o ser humano é um ser estúpido e sem sentimentos, que o jovem é movido pela adrenalina e que a razão e a emoção não se encontram, ou melhor, a emoção está jogada numa poça de lama sendo pisoteada a cada momento. Deodato pareceu criar um filme no formato que dava dinheiro na época camuflando-o com uma idéia “boa”, porém, como já dito, falha e horrendamente executada. O cinema perdendo a razão, sendo esperto e nada inteligente.

Certos filmes dessa “época de ouro para filmes ultra-violentos e viscerais” soam mais reflexivos do que esse filme que propõe e nos joga uma reflexão. Romero é um cara que conseguiu mesclar vísceras a críticas à sociedade e muitos não percebem e levam seus filmes na mais pura diversão, encaram-nos como “filmes de zumbis”. O ser humano “desenvolvido” pode ser um indivíduo egocêntrico e ignorante (sem generalizar, por favor), mas a sociedade faz com que ele pelo menos tenha consciência do que está fazendo. O que? A justificativa para os atos dos exploradores do filme é a curiosidade, a falta de compreensão? O problema do cinema é que ele dá uma visão ampla da sociedade quando pretende criticá-la. O personagem do filme deixa de ser uma figura isolada e passa a representar uma massa considerável. Quando o personagem representa um caso isolado o filme é gratuito, desnecessário e não crítico. “Cannibal Holocaust” trata os personagens como caso isolado. Impossível aqueles seres representarem uma massa da sociedade.

De qualquer forma, a pouca “fonte de força” do filme é coberta pela ignorância do diretor. Notem que o diretor se rebaixa a seus personagens ao fazer o filme, pois mata animais reais para criar o seu momento, chocar o público com cenas gratuitas e facilmente, devido à época de avanços nessa “área de vísceras”, substituídas. Talvez sua vontade de perfeição tenha sobreposto a razão e, claro, o diretor perde sua razão e nos dá uma mensagem escrota – desculpem a palavra. Talvez a melhor mensagem que o filme passa é que uma pessoa é afetada pela boa idéia – no caso, o diretor.

Os próprios índios canibais, julgados primitivos (e são), são mal desenvolvidos aqui. Não há por que tornar, como parece, os índios os injustiçados e donos da razão no ato final. Não são, eles são primitivos e canibais, usam quase que por instinto e elaboram sua vingança fazendo a “justiça ser feita” sobre os agressores. É o homem desenvolvido se rebaixando ao nível dos primitivos e os primitivos e os primitivos não entendendo nada. Não há como levar a sério algo que não convence nem mesmo consegue soar convincente. É um filme deplorável e racionalmente ignorante. E ainda têm a coragem de irritar com uma trilha sonora repetitiva, bonita para tentar criar um drama nas cenas pesadas e revoltantes.





Avaliação: 0/10

Por Pedro Ruback

Nenhum comentário:

Postar um comentário